Sabia que os Riscos de Falência Empresarial que estão a aumentar em Portugal? Saiba o que fazer e como mitigar a propensão para a falência da sua empresa.

Empresas em Risco de Falência. Uma Análise para o Tecido Empresarial Português

O panorama económico global enfrenta um período de elevada incerteza, e Portugal, com uma economia fortemente dependente do comércio internacional e da estabilidade financeira, não está imune a estas perturbações. O risco de falência empresarial é uma preocupação crescente para os empresários portugueses, especialmente num contexto onde os custos operacionais se encontram em alta, o acesso ao crédito está mais restrito e a procura interna enfrenta desafios consideráveis. Neste artigo, exploramos algumas causas que têm contribuído para o aumento do risco de falência de empresas, abordando as medidas que podem ser tomadas para mitigar estes riscos, com um olhar focado no tecido empresarial nacional.

A Fragilidade Económica no Contexto Atual

A economia portuguesa é caracterizada por uma elevada dependência de pequenas e médias empresas (PMEs), que representam cerca de 99% do total das empresas do país. Estas organizações, muitas vezes familiares e com recursos limitados, têm sido historicamente vulneráveis a choques externos, como crises económicas e alterações repentinas nas condições de mercado. A pandemia de COVID-19 e, mais recentemente, a crise inflacionária global provocada por interrupções nas cadeias de abastecimento e conflitos geopolíticos, como a guerra na Ucrânia e mais recentemente a eclosão do conflito no Médio Oriente, expuseram ainda mais estas fragilidades.

Inflação Persistente e Aumento dos Custos Operacionais

A inflação tem sido um dos principais motores da instabilidade económica recente. Em Portugal, a inflação alcançou níveis que não se viam há décadas, afetando significativamente os custos operacionais das empresas. O preço da energia, das matérias-primas e dos serviços logísticos disparou, o que, por sua vez, aumentou os custos de produção. Esta situação é particularmente problemática para as indústrias que dependem fortemente de importações de materiais, como a indústria transformadora, o retalho e a construção civil.

As PMEs, que frequentemente operam com margens de lucro reduzidas, estão a ser especialmente impactadas. Com pouca capacidade de absorver aumentos de custos, estas empresas veem-se forçadas a aumentar os preços dos seus produtos ou serviços. No entanto, esta não é uma solução fácil, pois os consumidores, também pressionados pela inflação e com um poder de compra reduzido, demonstram uma crescente sensibilidade aos preços, o que pode resultar na diminuição das vendas e na perda de competitividade.

Taxas de Juro Elevadas e Acesso ao Crédito

Outro fator crítico é o aumento das taxas de juro. Com o Banco Central Europeu a adotar políticas monetárias restritivas para combater a inflação, o custo do financiamento aumentou substancialmente. Este cenário cria dificuldades acrescidas para as empresas que dependem de empréstimos bancários para financiar as suas operações diárias ou para investir em expansão e inovação. Em Portugal, onde muitas empresas ainda carregam o peso de dívidas contraídas durante períodos de crise anteriores, o aumento dos juros significa maiores encargos financeiros e menor capacidade de gestão da tesouraria.

A restrição do crédito é ainda mais problemática para empresas que estão a iniciar a sua atividade ou que se encontram em setores de risco elevado. Bancos e instituições financeiras tornaram-se mais cautelosos na concessão de crédito, impondo critérios de avaliação mais rigorosos e preferindo emprestar a empresas com perfis financeiros sólidos. Este contexto cria um ciclo vicioso onde as empresas que mais precisam de financiamento têm maior dificuldade em obtê-lo, aumentando, assim, o risco de insolvência.

Diminuição do Consumo Interno e Incerteza do Mercado

O consumo interno é outro elemento que tem sofrido os impactos da instabilidade económica. Com a inflação a corroer o poder de compra das famílias e o aumento das taxas de juro a encarecer os empréstimos, o consumo privado tem desacelerado. Para muitas empresas portuguesas, especialmente aquelas que operam no setor de bens de consumo, retalho e serviços, esta diminuição da procura traduz-se numa queda das receitas.

Adicionalmente, a incerteza económica tem levado os consumidores a adotar comportamentos mais conservadores, adiando compras maiores e optando por marcas mais económicas. Esta mudança nos hábitos de consumo afeta diretamente empresas que dependem de produtos premium ou que têm uma proposta de valor baseada na qualidade superior, obrigando-as a reavaliar as suas estratégias de mercado.

Impacto das Cadeias de Abastecimento e Globalização

Outro desafio significativo para as empresas portuguesas é a contínua disrupção nas cadeias de abastecimento globais. Desde a pandemia, e agravado pelo conflito na Ucrânia, muitos setores enfrentam dificuldades em obter matérias-primas e produtos acabados dentro dos prazos e a preços competitivos. Setores como o têxtil, a indústria automóvel e a tecnologia têm sido particularmente afetados, uma vez que dependem de componentes fabricados no estrangeiro.

A globalização, que durante anos foi vista como uma força de democratização dos mercados e acesso a produtos mais baratos, agora apresenta riscos acrescidos. A dependência de fornecedores internacionais tornou-se um ponto fraco, expondo as empresas a problemas logísticos, variações cambiais e flutuações dos preços globais. Em Portugal, onde a exportação é um pilar importante da economia, estas disrupções têm um impacto direto na capacidade das empresas de competir internacionalmente.

Medidas para Mitigar o Risco de Falência Empresarial

Embora o cenário atual seja desafiante, existem várias estratégias que as empresas portuguesas podem adotar para mitigar os riscos de falência. Estas medidas passam por ajustes no modelo de negócio, otimização da gestão financeira e inovação nos processos operacionais.

Revisão e Otimização do Modelo de Negócio

Em tempos de crise, a capacidade de adaptação é crucial. Um dos primeiros passos que uma empresa deve tomar é reavaliar o seu modelo de negócio, identificando áreas que possam ser melhoradas ou adaptadas às novas realidades do mercado. O Business Model Canvas, uma ferramenta amplamente utilizada, permite às empresas visualizarem os principais componentes do seu modelo de negócio — como a proposta de valor, os canais de distribuição e as fontes de receita — e ajustá-los conforme necessário.

Por exemplo, empresas que tradicionalmente dependiam de vendas físicas podem expandir para o e-commerce, diversificando assim os seus canais de vendas e alcançando novos segmentos de mercado. Da mesma forma, as empresas podem reavaliar as suas propostas de valor, ajustando os produtos e serviços para melhor responder às necessidades dos clientes em tempos de crise económica.

Gestão Eficiente e Controlo de Tesouraria

O diagnóstico económico e financeiro de uma empresa torna-se extremamente importante num ambiente de negócios que é cada vez mais competitivo e instável.

A análise dos indicadores económicos e financeiros facilita a tomada de decisões estratégicas, sejam elas de natureza operacional, de investimento ou de financiamento, pelos gestores das empresas.

A necessidade de realizar uma análise abrangente da situação económica e financeira reside na capacidade de oferecer uma visão precisa e atual do desempenho do negócio, permitindo identificar problemas e agir de forma oportuna e informada para planear o futuro com maior segurança.

A gestão da tesouraria é outro pilar essencial para a sobrevivência das empresas em tempos de incerteza. A previsão de fluxos de caixa deve ser feita de forma regular e detalhada, identificando antecipadamente possíveis lacunas de liquidez. A renegociação de prazos de pagamento com fornecedores, a antecipação de recebimentos e a otimização dos processos internos são passos fundamentais para garantir que a empresa mantém um fluxo de caixa saudável.

Além disso, a digitalização dos processos financeiros e a utilização de software de gestão financeira podem proporcionar uma visão mais clara e em tempo real das finanças da empresa, permitindo decisões mais informadas e rápidas.

Redução de Custos Fixos e Variáveis

Reduzir custos é uma necessidade inevitável em tempos de crise. As empresas devem realizar uma análise detalhada dos seus custos fixos e variáveis, identificando onde podem cortar sem comprometer a qualidade dos seus produtos ou serviços. Medidas como a renegociação de contratos de arrendamento, a revisão de contratos com fornecedores e a redução de desperdícios operacionais podem ajudar a aliviar a pressão financeira.

A automação de processos é outra solução eficaz para reduzir custos a longo prazo. A implementação de tecnologia que permita automatizar tarefas administrativas, produção e logística não só reduz custos, como também melhora a eficiência e a capacidade de resposta da empresa.

Diversificação de Fontes de Receita

A diversificação das fontes de receita é uma estratégia crucial para reduzir o risco de falência. Dependendo do setor e das capacidades da empresa, pode-se explorar novos mercados ou desenvolver novos produtos e serviços que complementem a oferta atual. Por exemplo, empresas de manufatura podem explorar oportunidades na economia circular, reciclando e reaproveitando materiais para criar novos produtos. A internacionalização também é uma via a explorar, especialmente em mercados onde a procura por determinados produtos ou serviços permanece robusta.

Para além disso, o desenvolvimento de parcerias estratégicas pode permitir o acesso a novos mercados e a partilha de riscos. As joint ventures e as alianças com outras empresas podem oferecer sinergias importantes e um acesso mais fácil a recursos e competências que, de outra forma, seriam difíceis de alcançar.

Fortalecimento da Relação com Clientes e Parceiros

Manter uma relação sólida com os clientes e parceiros é vital em tempos de crise. A comunicação constante e transparente ajuda a reforçar a confiança e a lealdade, elementos essenciais para a retenção de clientes. As empresas devem investir em serviços de apoio ao cliente que sejam responsivos e personalizados, mostrando um claro entendimento das necessidades e preocupações dos seus consumidores.

Adicionalmente, fortalecer as parcerias com fornecedores e distribuidores é fundamental para garantir a continuidade do negócio. Negociações abertas e colaborativas podem resultar em melhores condições comerciais, ajustadas à realidade atual, beneficiando ambas as partes.

Resiliência Financeira e Acesso a Fundos de Apoio

Em Portugal, existem vários programas de apoio financeiro às empresas. Linhas de crédito específicas, fundos de investimento e subsídios governamentais são recursos que as empresas podem explorar para reforçar a sua resiliência financeira. A capacidade de recorrer a estas fontes de financiamento pode fazer a diferença entre a linha de desenvolvimento da empresa ter uma tendência positiva ou começar a mostrar sinais de desaceleração e declínio.

Além disso, reforçar o capital social da empresa ou procurar investidores externos são opções válidas para garantir a sustentabilidade financeira a longo prazo. O aumento do capital próprio reduz a dependência de dívida e fortalece a estrutura financeira da empresa, proporcionando uma maior margem de segurança em tempos de incerteza, além de dar sinais claros ao mercado da sua robustez financeira.

Planeamento de Cenários e Contingências

Por último, o planeamento de cenários e a criação de planos de contingência são essenciais para antecipar e reagir a eventuais mudanças no mercado. As empresas devem desenvolver diferentes cenários económicos — desde o mais otimista ao mais pessimista — e preparar estratégias para lidar com cada um deles. Este tipo de planeamento ajuda a empresa a evitar surpresas e a implementar rapidamente as medidas necessárias para mitigar os impactos de novas crises.

Conclusão

O risco crescente de falência empresarial em Portugal é uma realidade que não pode ser subestimada. O cenário económico atual, caracterizado por uma inflação persistente, aumento das taxas de juro, diminuição do consumo interno e disrupções nas cadeias de abastecimento, coloca as empresas num ambiente de elevada incerteza e pressão financeira. Estes fatores combinados não apenas dificultam a operação quotidiana, mas também desafiam a capacidade das empresas de se manterem solventes a longo prazo.

Contudo, uma abordagem estratégica e proativa pode ser determinante para mitigar estes riscos. As empresas devem focar-se na adaptação dos seus modelos de negócio, ajustando-se rapidamente às mudanças de mercado, e na gestão eficiente da tesouraria, preservando liquidez para enfrentar períodos de menor receita. Investir na diversificação de produtos e mercados, explorar oportunidades digitais e fortalecer as relações com fornecedores são ações essenciais para aumentar a resiliência.

O tecido empresarial português tem demonstrado ao longo do tempo uma notável capacidade de adaptação e inovação, superando crises e desafios. No contexto atual, essa resiliência será mais uma vez fundamental. A gestão competente, aliada à coragem para inovar, permitirá que as empresas não apenas sobrevivam, mas que prosperem mesmo em tempos adversos. A procura por novas formas de crescimento, como a aposta em tecnologias emergentes e a exploração de mercados internacionais, pode transformar a crise em oportunidade.

Com medidas assertivas, as empresas portuguesas têm o potencial definir as suas estratégias de sucesso no mercado. A chave está em manter a flexibilidade, investir na qualificação dos recursos humanos e adotar uma visão de longo prazo, que privilegie a sustentabilidade e a criação de valor contínuo. Assim, é possível enfrentar os desafios atuais e emergir mais fortes e competitivas no futuro.

contabilista certificado rogério rêga
Sócio-Fundador at RCR Contabilidade |  + posts

Como Contabilista Certificado e gestor de empresas, os meus últimos +30 anos de experiência estão ligados à criação, desenvolvimento e expansão de empresas.